Área de Flood

A história começara com a chegada da carta da minha irmã mais velha, Edith, com a nova que um possível casamento poderia estar a avizinhar-se. Se tal fosse o caso, no dia em que Edith firmasse a sua união eu teria de voltar a Versalhes. Ainda me inquietava como alguém poderia interessar-se por aquela rapariga intragável e sem graça que era a minha irmã, era apenas uma jogada de poder - essas eu entendia demasiado bem. Infelizmente ainda não tivera confirmação dos meus restantes irmãos ou mesmo dos meus pais sobre aquela situação, o que me tornava bastante desconfiava em relação àquela carta. Seria verdade? Mesmo que não fosse continuava a roubar-me o sono, as noites passaram a ser horas de estudo e de contemplação das estrelas - mais nada sei fazer durante o reino da lua no seu trono celestial, apenas observar e pensar, estudar e reflectir. Tornei-me atomizada nas minhas acções, relacionando-me com os outros com os protocolos que a minha mente decorara há muitos anos. Tornara-me, ainda mais, uma pessoa de poucas palavras.

Ao aconchegar-me na minha capa reparei no reluzente simbolo de autoridade nesta, o dourado do crachá da monitoria destacava-se naquele azul incandescente - fora a minha única alegria naqueles meses que corriam apressados. Ao prestar alguma atenção ao que me rodeava apercebi-me que me encontrava no sétimo andar quando começara a minha demandada no pátio - a minha mente viajava para outras paragens tão distantes quanto possíveis. Eu deveria patrulhar os corredores, pois a noite aproximava-se e como o castelo era de proporções gigantescas todos os monitores necessitavam de permanecer atentos a possíveis transgressões. Sempre fui muito rígida em relação a regras, e tencionava fazê-las cumprir nos meus turnos de vigia, mesmo que os meus pensamentos se intrincassem pela terra dos sonhos a cada segundo que passava.

Parei junto a um vitral, a sua luz fragmentava-se em várias cores do laranja ao vermelho com um toque de azul, trespassando o vidro como uma espada trespassaria os seus inimigos marcando o crepúsculo no horizonte. Há medida que a luz desaparecia apenas uma faixa dourada incidia sobre o meu rosto, era a última luz do dia, o marcar de um novo começo. Suspirei sozinha envolta numa escuridão que se avizinhava, num momento onde as tochas ainda não se haviam acendido e onde o castelo se encontrava mergulhado num belíssimo anoitecer criando em cada recanto um lugar de mistério e suspeita. O silêncio era imperativo. Assim encostei a testa ao vidro frívolo contentando-me com aquele simples prazer tentando tomar coragem para regressar à minha demandada por mais corredores pacificados pela noite.